"La Tragedia de la puerta 12". Assim é conhecida a maior tragédia da história do futebol argentino. O que era para ser um dia de festa no Monumental acabou em desastre, com dezenas de mortes.
Domingo 23 de junho de 1968, Nuñez, River Plate e Boca Juniors faziam mais um superclásico. O jogo até correu bem, apesar de ter sido 0 a 0, mas o que aconteceu após o apito final acabou deixando marcas na sociedade argentina.....
A Tragédia da Porta 12
A torcida do Boca tentava deixar o estádio que recebeu mais de 90 mil pessoas, em uma fila na saída da porta 12, quando aconteceu o desastre. A porta estava fechada. Quem estava na ponta tinha de suportar a pressão e empurrões de uma multidão que se apinhava forçando a saída.
--- “Por causa da pressão humana, aconteceu um efeito raríssimo: começamos a sair do chão. Eu estava flutuando a quase meio metro sem poder me mexer, até que em um certo momento essa pressão cedeu e começamos a rolar uns por cima dos outros. Foi então quando o meu melhor amigo, Guido Von Bernard, morreu ao bater a cabeça em uma das paredes do túnel”.
O testemunho é do sobrevivente Juan Nicholson ao jornal La Nación
O tumulto foi ficando cada vez maior, até que as pessoas começaram a simplesmente atropelar umas as outras. Muitas caíram no chão, e acabaram pisoteadas, ou mesmo sufocadas. Foram, no total, 71 mortos.
Segundo algumas testemunhas ouvidas durante o processo que investigou as causas da maior tragédia do futebol argentino, a polícia teria fechado o portão e preparado uma revista aos torcedores do Boca.
Tudo porque o público visitante cantou a marcha peronista – o que era expressamente proibido naqueles tempos. A Argentina vivia sob a ditadura militar do general-presidente Juan Carlos Onganía,
Depois do episódio e durante alguns anos, a torcida Xeneize costumava cantar nos estádios;
--- “No había puerta, no había molinete, era la cana que daba con machete”.
Pela versão do River, posteriormente corroborada na investigação oficial, o problema teria sido causado pela não retirada de algumas catracas que controlam o acesso ao estádio. Estas deveriam ser retiradas totalmente bem antes do final do jogo para facilitar o fluxo de saída. Além disso, algumas portas metálicas corrediças não estavam totalmente abertas.
Segundo Carlos López, ex-inspetor geral da polícia de Buenos Aires na época do ocorrido - funcionários responsáveis pela retirada das catracas eram da prefeitura da cidade, e que eles teriam “se esquecido de fazê-lo porque o jogo estava muito equilibrado e entretido.
Já um dos funcionários responsável pelas catracas, Juan Carlos Tabanera, afirmou que não foi bem assim, e sim que a polícia é que teria provocado tudo: --- “a porta estava aberta e as catracas, retiradas. Eu estava aí e dou minha fé (…). Minha hipótese é que se quis acobertar o desempenho da força (policial) e se inventou o tema das catracas”, que também teriam barrado as pessoas.
Outro a dizer que a causa foi a repressão policial foi um ex-presidente do River, William Kent: --- “os torcedores faziam suas necessidades em vasos de café e atiravam urina e excrementos à polícia montada que estava na rua. Isso provocou a repressão policial e, logo, a tragédia”.
A conclusão dos peritos foi mesmo de que as portas estariam fechadas, o que não foi o suficiente para a justiça penal estabelecer punições.
A maioria dos familiares desistiu do recurso e apenas duas famílias acabariam indenizadas pelo River e pela AFA, em troca de também renunciar a ações legais. Apesar de um dia de luto nacional declarado e da rápida divulgação da tragédia.
o incidente saiu da mídia pelos anos seguintes.
O documentarista Pablo Tesoriere fez um documentário sobre o assunto intitulado Puerta 12, lançado em 2008. Após a repercussão deste documentário o River prestou uma homenagem no local, realizada pelo Movimento Mujeres de River,
Hoje a Puerta 12 já não existe mais com este nome. O clube rebatizou todos seus acessos seguindo a ordem do abecedário. Porém ela continua lá, sendo a mesma e com todas essas mortes no prontuário. Agora ela é a Puerta L e apenas uma placa fixada na parede do estádio relembra, ainda que de forma tímida, as vítimas que perderam a vida ali.
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